A pesquisa “ESG para executivos de finanças” ouviu Chiefs Financial Officers (CFOs) de 80 organizações, em um estudo inédito realizado pelo Instituto Brasileiro de Finanças de São Paulo (IBEF-SP), com o apoio da PwC Brasil. A averiguação, realizada entre maio e junho de 2022, aponta que 78% dos executivos de finanças consideram as ameaças climáticas relevantes ou muito relevantes para o sucesso dos negócios. A importância dada aos riscos ambientais é maior entre executivos de empresas de grande porte. O envolvimento da área financeira na execução das estratégias em Environmental, Social and Governance (ESG) também é positivo: 64% afirmam participar dos programas em suas organizações.
“Como nos negócios em geral, a visão estratégica e mais pragmática do CFO, combinada à sua capacidade de avaliação de riscos e oportunidades financeiras, deve, também, ser incorporada à temática ESG. O sucesso nessa área definirá o futuro da companhia. É importante que esse tema seja tratado de forma coerente, sem exageros, e que realmente traga benefícios para todos os envolvidos”, defende a vice-presidente do IBEF-SP e coordenadora da pesquisa, Meily Franco.
Para Meily Franco, ESG não é um modismo e, sim, um tema relevante e que tem impacto na saúde financeira das empresas. “Reportar e gerenciar metas financeiras e não financeiras relacionadas aos aspectos ambientais, sociais e de governança são tarefas cada vez mais relevantes e urgentes. ESG é parte da estratégia. Quanto mais cedo as empresas se prepararem para esse desafio, maiores serão as chances de sucesso”, acrescenta.
Maturidade de medição dos temas socioambientais
Ainda de acordo com o estudo, apenas 23% dos CFOs indicam que suas organizações possuem um processo maduro para medição dos temas socioambientais. Esse resultado indica que o mercado ainda está no início da caminhada de implementação de boas práticas socioambientais. Quando questionados sobre a descarbonização, a pesquisa traz outro alerta: somente 33% dos executivos de finanças afirmam que suas empresas têm algum tipo de compromisso formal. Mais de 60% dos entrevistados também declararam não ter indicadores de sustentabilidade claros e harmonizados com os padrões internacionais em suas organizações.
Programas de inclusão, diversidade e combate às desigualdades
Segundo os entrevistados, metade das organizações possui um programa de inclusão e diversidade claramente estruturado. A pesquisa aponta que mais de 40% das empresas contam com ações que podem ser aprimoradas e mais bem estruturadas, enquanto apenas 9% não possui iniciativas relevantes. Os temas de saúde e segurança também passaram a ter uma importância ainda maior com o avanço da pandemia da Covid-19. Esse cenário é refletido na opinião de 92% dos executivos de finanças, sendo que 74% afirmam investir em programas que fomentem a saúde, a segurança e o bem-estar dos colaboradores.
Quase a totalidade dos executivos de finanças (98%) considera o papel das organizações relevante ou muito relevante no combate às desigualdades. Em contrapartida, mais da metade dos executivos afirma que os investimentos nas comunidades e no entorno das organizações não são feitos ou são insuficientes.
Entre os CFOs, mais de 70% também indicam que as organizações não têm mecanismos para quantificar esses benefícios, o que é um instrumento importante para o direcionamento de recursos para ações que geram mais impacto. Esses resultados revelam uma assimetria entre a percepção da importância do tema e as ações efetivamente realizadas.
Relevância dos incentivos fiscais para impulsionar a agenda ESG
Quase 80% dos CFOs entendem que os incentivos fiscais são relevantes ou muito relevantes para o avanço dessa agenda, ensejando as preocupações relacionadas aos investimentos que precisam ser feitos do ponto de vista operacional; e das questões de transição energética e redução do custo do carbono.
Impostos verdes e sociais para o fomento da agenda ESG
Há concordância de 89% dos CFOs sobre o tema, mas 66% têm ressalvas, notadamente, com o aumento da carga tributária. Neste sentido, 38% entendem ser necessária uma reforma tributária para adoção desses impostos, tendo em vista o peso atual da carga tributária para o setor produtivo.
Governança organizada para incorporar princípios de ESG
Apenas 31% dos executivos de finanças consideram a estrutura de governança adequada para tratar de temas socioambientais, o que representa um ponto de atenção importante para as organizações. De acordo com o estudo, metade das empresas publica algum tipo de relatório de sustentabilidade no Brasil ou na matriz no exterior. No entanto, chama a atenção que 35% das empresas participantes não emitam – nem pretendam emitir – relatórios dessa natureza.
Em resposta aos alertas acima, quase metade dos participantes indicou que a ausência de um programa claramente definido, assim como a dificuldade de tangibilizar o que o ESG representa para a organização, estão entre os principais desafios. Como esses temas estão estreitamente ligados, é provável que essas barreiras se justifiquem por causa de uma governança que ainda não trata os temas ESG com priorização. Entre os CFOs, 1% também afirmou não ver a necessidade de incorporar os temas de ESG à estratégia da empresa e 2% alegaram outros motivos.
Entre os CFOs, quase metade (49%) entende que o seu papel deve ser de protagonista nos temas de ESG, enquanto outros 38% julgam que podem exercer um papel de apoio às demais áreas envolvidas, com foco específico em temas mais relacionados às finanças. “Com o aumento da importância dos temas socioambientais para as organizações, é fundamental que as empresas tenham uma visão clara e objetiva sobre os riscos a que estão expostas e que incorporem esses riscos aos programas de gestão existentes. Além dos impactos financeiros, eles podem causar danos irreparáveis à imagem das organizações”, finaliza Meily Franco.
Fonte: Diário do Comércio